Monday, April 04, 2005

Orquidea da minha vida


Foi num dos meus passeios durante a Primavera que eu a conheci, a mulher da minha vida, aquela que eu sonhara nas noites frias de Inverno.
Certo dia, decidi passear pelas ruas do Recife. Fui vendo as lojas, os restaurantes, as pessoas a passear. Enquanto olhava para dentro dos cafés reparei numa senhora, com delicadas mãos a limpar as mesas. Pensei que fosse uma empregada como todas as outras. Até que vi aquelas duas esmeraldas. Duas esmeraldas belas como flores, flores essas que floriam com toda a sua força numa Primavera fresca! Era ela, a minha mulher! Soube desde o momento que a vira que a conhecia!
“- Tem de ser ela! Tem de ser!!� – dizia eu para mim
Entrei no café e pedi-lhe um café. Ela olhava-me nos olhos e eu forçava o meu olhar, não queria deixar de ver aquela beleza, no entanto, sentia o meu coração a rebentar de tanto desejo, tentado-me a desviar o olhar!
Quando me entregou o café pensei que pudesse ser um pouco rude se começásse a fazer muitas perguntas, visto que ela nem me conhecia. Mas pensei que o nome não seria muita coisa.
“-Desculpe interromper o seu trabalho, minha senhora, mas... Como se chama?� – perguntei eu, à espera da resposta mais brusca, mais rude.
“-Chamo-me Ana.� – respondeu ela com a voz mais doce, doce como o mel.
“-Ana, Ana, Ana...� – repetia eu para dentro, como uma abelha a seguir o pólen das suas flores.
Logo que acordei do hipnotismo daquele nome, daquelas esmeraldas, daquela voz, reparei que Ana já voltara ao seu trabalho. Entristeceu-me, pois nem sequer cheguei a apresentar-me.
Quando acabei de beber o café agradeci-lhe, e apresentei-me.
“- Desculpe-me por ter sido tão rude consigo. Não tencionava ser grosseiro ao estar a perguntar-lhe o nome sem me apresentar. Chamo-me João Roberts.� – disse eu, tentando a minha sorte.
“- Não se preocupe comigo, eu sou uma simples empregada de café, todos me perguntam o nome, e todos se vão embora, deixam de aparecer, e eu fico sempre aqui. Mas isso são preocupações tolas.� – disse Ana, baixando a cara, para voltar a limpar as mesas.
“- Desculpe-me, mas a senhora parece não gostar da sua vida! A senhora é, permita-me dizer-lhe, muito bela!� – disse eu e entusiasmado com o corar das faces dela.
“- Agradeço a sua preocupação, no entanto, tenho imenso trabalho por fazer. Volte sempre, senhor Roberts.�
“- Senhor não. Trate-me por João!� – disse eu, sorrindo.
“- Então, volte sempre João!!� – disse ela, sorrindo, e voltou para o seu trabalho.Saí do café e fui para casa. Tinha de pensar no que se estava a passar. Se era ela mesmo, eu tinha de saber como falar com ela, mas sem a assustar.
“- Tenho de lá voltar!!� – dizia eu todo entusiasmado – “Tenho de a conhecer, mas eu sei que a conheço, eu sei que ela me conhece!!�
No dia seguinte aprontei-me para lá ir tomar o meu café e voltar para casa com mais uma resposta.
Cheguei ao café e lá estava Ana, a limpar as mesas, a preparar a máquina de café. E mal entrei, olhou para mim e sorriu.
“- Olá João! Boa tarde. Quer um café?� – disse ela toda entusiasmada
“- Olá Ana, boa tarde. Não, hoje não quero café. Hoje quero falar consigo!� – disse, com o tom mais simples e honesto que conhecia.
“- Bom, eu ainda não acabei o meu trabalho, mas devo acabá-lo dentro de uma hora...� – disse ela, e com um sorriso que ainda não entendia, um sorriso mágico.
Fiquei numa mesa a pensar o que iria lhe dizer, o que iria perguntar, mas de repente pensei:
“- Que tolice! Isso depois vê-se!!�
Passou-se simplesmente trinta minutos, e já estava ela pronta:
“- Então de que queres falar?� – disse ela toda entusiasmada de já não ter de estar a fazer o seu trabalho.
“- Qual é a tua flor preferida?� – perguntei eu
“- A minha flor preferida é sem dúvida alguma a orquídea. Adoro orquídeas! A combinação daquele roxo com o branco nas pétalas é realmente lindo!� – disse ela com um sorriso – “E que faz um senhor como o João?�
“- Sou um empresário. Gero uma das grandes empresas de textéis do Brasil. Acredito que isto das engenharias textéis sejam o futuro!� – disse entusiasmado.
“- Que engraçado! Deve ser tão entusiasmante ver novos padrões a serem criados! Eu pessoalmente crio imensas coisas. Adoro fazer padrões, tanto para roupa como para azulejos.�
“- Isso é muito interessante!! Tem aí algum dos seus trabalhos? Estou muito interessado em ver as suas criações!!�
Ela apontou para a parede e vi lá o quadro mais bonito que alguma vez tinha visto. Era uma combinação de roxos com brancos, verdes com vermelhos, todos a desenharem flores, num tom leve e suave, mas ao mesmo tempo que chamasse imensa atenção, estava realmente espantado como ainda não tinha reparado naquela beleza!
“- Estou perplexo!� – e realmente estava – “É fantástico Ana!! Nunca pensou em ir vender os seus trabalhos?! De certo que conseguiria bom dinheiro!!�
“- Pois...� – disse ela, e observei como ela corava. Como ela era bela quando ela corava – “Mas o meu sonho é abrir um café meu. E chamar-se-ia Espaço e horas, que é que acha do nome?�
“- É interessante, e chama atenção... Mas porquê espaço e horas?�
“- O Espaço e horas refere-se ao tempo e ao espaço que um artista precisa para se inspirar, e o café seria devidamente decorado a criar determinados ambientes, com cheiros, com cores... Tudo que permita a inspiração para a criação, quer ela seja artística ou outra coisa!�
Ficámos a conversar horas a fio, nunca tinha falado tanto com uma pessoa, e tão bem. Realmente achava que ela podia ser o anjo com quem sonhei!
No dia seguinte trouxe-lhe um ramo de orquídeas e quando entreguei-lhe pela primeira vez o ramo, Ana simplesmente delirou!
“- João! Como foste capaz?! Eu não queria que gastasses dinheiro comigo!!� – ela estava realmente estupefacta – “Ai, desculpe-me João, já lhe estava a tratar por tu. Desculpe-me.� – e baixou a cara
“- Meu Deus, Ana, trate-me por tu se quiser e deixe de se desculpar!!� – e levantei-lhe a cabeça e olhei para os seus olhos – “A senhora é tão importante quanto eu!�
“- Pronto, eu trato-te por tu, mas também tens de me tratar por tu...� – disse ela
“- Tens tempo? Depois podíamos ir ao parque. Está um dia lindo. E queria mostrar-te uma coisa...� – disse eu, esperando que ela aceitasse o meu convite.
“- Ainda não acabei o meu trabalho, mas se me deres trinta minutos estarei prontíssima!!�
Quando ela terminou o seu trabalho, corri para o parque da cidade com ela, e pedi que ela me seguisse e que fechasse os olhos:
“- Eu guio-te! Vais gostar!!� – repetia eu
“- Está bem.� – dizia ela
Quando chegámos ao local especial que encontrara disse-lhe:
“- Abre os olhos!�
Ela abriu a boca de espanto, abriu os olhos de tanta alegria, sorriu com toda a força que alguma vez tinha visto! Era aquele sorriso mágico que me tinha dado!
“- João!! Como é que descobriste este sítio??! Como?! Estas orquídeas são... São as mais belas que alguma vez vi!!!�
“- Ana, amo-te. Daí que encontrei estas flores, porque flor mais bela do que tu, não existe! És simplesmente única! És a vida do meu coração!� – dito isto, baixei a cabeça e pus as mãos à boca, nunca deveria ter dito tal coisa.
“- Não sei que te dizer, apenas que esse sentimento é mútuo, eu amo-te, soube desde o momento que me perguntaste o nome, desde o momento que falaste comigo!�
E beijámo-nos, naquele campo lindo de orquídeas, com um céu límpido e com um sol forte, como se exaltado pela nossa alegria!Aquela tarde tinha sido realmente a mais marcante. A mais bela. A mais mágica. Éramos mesmo feitos um para o outro.
A pouco e pouco fomos juntando dinheiro para o a criação do seu café. Eu pensava casar-me com esta mulher. Amava-a do fundo do meu coração. Toda a minha vida procurara este ser. E encontrara-o. Sentia-me feliz por tê-la encontrado.
Passaram-se vários meses desde aquele dia em que nos beijámos, e ainda nos amávamos, e talvez mais do que antes. E já tinhamos quase todo o dinheiro para o Espaço e Horas, o que alimentava ainda mais o nosso orgulho.Todas as manhãs aprontava-me para a poder ver. Adorava falar com ela. Adorava estar com ela. Ver aquele sorriso completava-me o dia.
Certa tarde de Outono, fui ao café para a ver e quando lá cheguei, ela já estava pronta para passear, mas desta vez, com uma cara um pouco triste.
“- Que se passa? Pareces triste...� – disse eu, preocupado.
“- Não é nada... Não te preocupes..� – e sorriu
Sentámo-nos numa das mesas do café e olhei para ela, para aqueles olhos verdes:
“- E onde queres ir hoje meu anjo? Vamos ver o céu? Vamos ver o lago? Vamos ver as flores?�
“- Hoje tenho uma coisa para te dizer, espero que não te zangues, mas acho que deves saber isto antes que...� – e não terminou a frase – “ Vamos para o parque, aqui é muito dificil falar.�
Andámos pela cidade, e chegámos ao parque, não falámos uma única palavra, apenas sentia a minha mão ser mais e mais apertada por ela, como se não me quisesse largar. Depois de sentarmo-nos num dos bancos do jardim, ela continuou:
“- O que te queria dizer era que não posso estar mais contigo.� – fiquei petrificado – “O meu pai forçou-me a casar-me com um homem que nem conheço, e estamos noivos ainda antes de te ter conhecido! Eu amo-te muito, muito mesmo e não sei o que será de mim sem ti, mas amanhã parto para Peru, é lá onde me vou casar, e conhecer esse mesmo homem.�
Não sabia o que dizer, foi como que se arrancassem o ar dos meus pulmões.
“- Ana, eu amo-te...!� – era o que sabia dizer – “Amo-te tanto que não posso ficar aborrecido! Se este é mesmo o nosso último dia juntos, então vamos viver como se fosse o primeiro entre muitos! Amo-te Ana! Amo-te!�
“- João... T-tu não ficas aborrecido comigo? Pensei que ficasses mesmo muito zangado!!� – disse ela feliz – “Amo-te tanto João!!!�
Entre lágrimas e risos, beijámo-nos, com um sabor de saudade e despedida, mas como se fosse o primeiro amor das nossas almas.
No dia seguinte fui ao cais vê-la partir, embora tivesse-lhe prometido que não iria vê-la partir, pois seria mais dificil para os dois.
“- JOÃO!� – gritou ela logo que me viu, e correu para mim – “João, tu prometeste-me que não virias!!!�
“- Não pude deixar de te ver... Amo-te Ana, e quero que tentes ser feliz! Eu vou tentar!!�
“- Amo-te muito João!�
Beijámos pela última vez, e vi-a partir. Tinha o coração despedaçado. Tive de largar o meu único amor, a minha alma.
Passaram-se mais de 40 anos e nunca tive uma única notícia de Ana. Tenho saudades dela, e amo-a mais do que tudo... Mas a vida continua e hoje, vou a Peru.
Amo-te minha orquidea.


PS: Espero que gostem desta história. Esta história é puramente fictícia
PPS: Obrigado por visitarem o blog e por comentarem nele, e mais uma notícia: Aguardem pelo Luís... Ele vai voltar... Mas a pergunta que vos coloco é: Como?